Arquitetura evolutiva e sociedade
Ao mesmo tempo, em que percebemos o esforço da sociedade para transformar e adaptar espaços já construídos com o objetivo de responder às mudanças das estruturas familiares, a busca por opções habitacionais que atendam não somente a diferentes condições sociais, econômicas, culturais e capazes de responder às necessidades habitacionais futuras cresce mundo afora e tornou-se ainda mais comum. Sendo assim, pensar em habitações que sejam evolutivas e adaptáveis por vez seja o maior desafio para os arquitetos na atualidade.
A transformação de construções pré-existentes é uma atividade até então desafiadora, custosa e pode ser penosa em muitos momentos. Ainda assim, com o tempo, as configurações familiares tendem a mudar, evoluir, bem como suas necessidades rotineiras e espaciais, de modo que as reformas acabam sendo necessárias para acompanhar essa evolução. Nos últimos três anos, por exemplo, pudemos vivenciar com clareza a necessidade de adaptações domésticas devido a pandemia de COVID-19, seja para a adaptação de um escritório em casa por conta da condição de reclusão na quarentena, seja ainda para receber os sobreviventes da COVID com alguma sequela.
As famílias tendem à transformação, somando e subtraindo pessoas de seu convívio diário, formando barreiras físicas que precisam ser ultrapassadas e trocando seus interesses de acordo com a etapa de vida. Sob o ponto de vista da arquitetura, a habitação se estrutura como “organismo” aberto à mudança e consequentemente adaptável a uma maior diversidade sociocultural e mais duradoura, compreendendo a habitação evolutiva enquanto uma construção que permite alterar os usos dentro dela, ocupá-la de maneira variada ao longo do tempo, “transformá-la” em função das necessidades atuais ou futuras daqueles que a ocupam.
A arquitetura habitacional contemporânea precisa ser evolutiva, ou seja, adaptável às diferentes necessidades e aos diferentes momentos da vida das famílias. Isso envolve dois fatores fundamentais: a acessibilidade universal e a técnica construtiva.

De antemão, projetar plantas que sejam totalmente acessíveis significa garantir que pessoas de todos os tipos de corpos possam circular livremente dentro das unidades, sem diferenciar rotas acessíveis ou unidades especiais. Além disso, buscando reformas que sejam, ao mesmo tempo, mais limpas, rápidas e menos trabalhosas e custosas, é fundamental considerar na concepção estrutural um projeto que contemple essas necessidades, e que possa apresentar múltiplas configurações dentro do mesmo espaço.
Compreender as habitações unifamiliares durante uma estrutura duradoura não significa apenas construí-las em materiais de alta resistência, durabilidade e baixa manutenção, possibilitando transformações limitadas, mas também considerar as habitações enquanto construções flexíveis, que permitam estratégias para repensar conceitualmente a casa, incorporando a ideia de habitar como processo contínuo, vivo, evolutivo, em oposição à ideia da construção enquanto produto acabado e solidificado.